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Qual crise queremos resolver?

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Setores conservadores da sociedade, dirigidos por um governo submerso em acusações de corrupção e negociatas, tentam nos convencer que a saída para a crise econômica é uma agenda de reformas neoliberais que extingue direitos trabalhistas, seguridade social e políticas públicas que garantem a vida nas cidades e no meio rural, desrespeitando direitos humanos básicos.

Mas qual a crise que realmente vivemos e qual crise queremos combater?

Nossa crise é muito mais civilizatória que econômica. Vivemos em um mundo de desigualdade social que promove o consumo desenfreado colocando a própria sobrevivência do planeta em risco. Nosso conceito de progresso, desenvolvimento e crescimento passa pelo crescente acumulo de bens materiais que nos leva a caminhar a passos largos para a barbárie: para um mundo de violência, miséria e exclusão num colapso ambiental onde governos autoritários e opressivos ganham força.

Sair da crise passa por repensarmos os fundamentos de nossa sociedade, reinventarmos a forma que consumimos, que produzimos e que nos relacionamos com o outro e com o meio ambiente.

A quebra dos paradigmas atuais é o primeiro passo, precisamos reafirmar valores básicos da democracia como liberdade, igualdade, solidariedade e vida em comunidade para construirmos uma nova sociedade, novas relações de produção e consumo, novas formas de convivência social, uma democracia radical onde os cidadãos possam se apropriar do governo, do poder e da produção, consolidando uma relação harmoniosa com o meio ambiente e entre os seres humanos de todas as raças, tribos, nações, credos e opções.

A única forma de vencer esta crise é deixarmos de ser uma sociedade organizada para atender às necessidades de acumulação e nos transformarmos em uma sociedade orientada para atender às necessidades de seus cidadãos.

Nosso desafio é distribuir desde já riqueza e renda de modo a reduzir substantivamente a pobreza e a desigualdade construindo uma sociedade pautada no respeito aos direitos humanos, que assegure água, soberania alimentar, soberania energética, a desmercantilização da natureza, bem como a valorização de bens públicos comuns como educação, saúde e transporte.

Estas mudanças civilizatórias não são facilmente construídas, levam tempo e demandam energia e dedicação, porém são emergentes. Vale lembrar que experiencias recentes apontam caminhos possíveis, aqui no Brasil, uma dessas experiência é a economia solidária, que apresenta soluções para a construção de um novo sistema econômico, sobre bases comunitárias, voltado para o desenvolvimento das forças produtivas, suas capacidades humanas e recursos produtivos.

As experiências exitosas da economia solidária nos mostram que é possível a emancipação do trabalhador dentro de um processo de democratização econômica, enquanto alternativa à dimensão alienante das relações de trabalho atualmente impostas.

Além da visão econômica de geração de trabalho e renda, as experiências de economia solidária têm como perspectiva a construção de um ambiente socialmente justo e sustentável. Uma economia solidária multidimensional, envolvendo a dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural.

A construção desta nova dinâmica econômica e social passa, sem duvida nenhuma, pela juventude – protagonista das principais transformações ocorridas no mundo nos últimos anos.

É a juventude que possui disposição para transformação e desapego aos paradigmas necessários para a construção do novo, basta agora incentivarmos a ousadia protagonista desta juventude que segue em frente, que não foge da fera e enfrenta o leão.

*Wenderson Gasparotto é Diretor da Unisol – SP (Central de Cooperativas e Empreendimentos da Economia Solidária – SP) e Vice Presidente do CONDEPE-SP (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo)

** As opiniões apresentadas nesse texto são de responsabilidade do seu autor.