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Daniel Vaz: Momento é de revisar e ampliar a política nacional de juventude

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Agora que a SNJ fica, definir por onde seguiremos com o tema parece ser fundamental, ainda mais com o provável esvaziamento decorrente da reestruturação do órgão

Estamos nos aproximando da reta final do processo de consulta pública realizado através da convocação da 3ª Conferência Nacional de Juventude. As etapas estaduais ajudam a consolidar um importante instrumento de diálogo com a sociedade brasileira, algo bastante raro nesse momento de posições extremadas de vários campos da política e dos movimentos organizados pelo país.

Nesses pouco mais de 10 anos da institucionalização de várias iniciativas nos 3 niveis federativos, muita coisa foi realizada, mas a impressão é de que vivemos um momento que ainda pede a consolidação de várias políticas – educativas, de formação profissional, setores mais vulneráveis, esporte, cultura; sem deixar de observar que já estamos na metade da segunda década do século 21 e a velocidade desse processo precisa aumentar e experimentar novos caminhos urgentemente, sob a pena de desperdiçarmos oportunidades de desenvolvimento do país que poderiam ser melhor aproveitadas, por esse caminho é que iremos tentar colaborar para um debate construtivo sobre o tema.

Esse não é um esforço de buscar grandes inovações ou últimas novidades, se apresenta mais como um ordenamento de ideias e opiniões a partir do que o cenário atual poderia nos apresentar como sendo rumos estratégicos a serem marcados. Esse primeiro texto vai se concentrar em apresentar temas definidos como prioritários, e que serão devidamente aprofundados semanalmente, de agora até a Conferência Nacional, que se realizará entre 16 e 19 de dezembro deste ano. O desejo é de contribuir desta forma para que a mesma seja a mais exitosa possível, abaixo seguem rápidas reflexões de 5 assuntos escolhidos como centrais:

  1. Promover uma revolução educacional e científica – Já passou da hora de estabelecermos outros patamares de desenvolvimento educacional e científico no país. Apesar de reconhecer avanços que ocorreram especialmente a partir de 2003 – ampliação de universidades e institutos federais, FIES, PRO UNI, Ciências Sem Fonteiras etc, parece que falta posicionar esses temas realmente como centrais na agenda política brasileira, o slogan do país como “Pátria Educadora” soa vazio nesse momento;

  2. Estimular as novas formas de participação social e política – A juventude sempre deu lições de cidadania aqui e em outras partes do planeta, se encarregando em vários momentos de liderar importantes bandeiras difíceis de serem carregadas pela sociedade como um todo inicialmente, desde o combate a ditaduras até a critica acertada a uma série de costumes ultrapassados que já tivemos que suportar. Seguimos vendo isso acontecer, mas com a mediação atual da internet e das tecnologias de informação e comunicação nesse processo, o que amplia a possibilidade de vozes e causas serem escutadas e defendidas nessa aldeia global. No entanto, o processo de participação e representação política da sociedade, inclusive da juventude, se transforma em algo que a maioria da sociedade critica, às vezes de maneira contraditória, inclusive. A impressão é de que esse crescente represamento de insatisfações pode começar a fazer bastante mal ao país, e nada melhor que a juventude propor caminhos que levem a um avanço da participação política da soiedade na definição das agendas principais para o nosso desenvolvimento;

  3. Incentivar mais as iniciativas empreendedoras – A energia criativa e a força de trabalho são dois patrimônios da juventude que não estão sendo devidamente explorados e apoiados em seu desenvolvimento pelo Estado brasileiro. Nossa educação empreendedora é incipiente, vivemos daqueles que se formaram por conta própria e que vão levando as suas iniciativas “do jeito que dá”, deixando de constituir uma estrutura que poderiam ser vinculadas a novos setores da economia e se transformarem, com um pouco de investimento, em futuros motores do desenvolvimento do país;

  4. Defender os direitos civis e as liberdades individuais – A intolerância de vários tipos aumenta assustadoramente no Brasil, passando tanto por manifestações públicas pela volta do regime militar quanto pelos corredores do Congresso Nacional, que vem promovendo uma série de retrocessos à sociedade em geral, com o argumento de defender princípios religiosos, éticos ou morais. O cenário atual ainda contribui para que essas pautas ganhem a função de simples munição para a guerra política que vivemos em Brasília. Esvaziarmos a onda conservadora que vivemos em particular no Congresso Nacional não pode sair do radar;

  5. Investir em um grande programa de intercâmbiio de jovens pela América Latina – Esse é o território que o Brasil deveria priorizar para desenvolver laços mais estratégicos tanto culturais quanto comerciais e políticos. A experiência do Programa Erasmus Mundus, realizado pela Comunidade Européia e destinado à promoção de atividades de intercâmbio por estudantes e universidades do continente, poderia servir como uma importante referência da contribuição que uma iniciativa como essa pode ter no desenvolvimento de uma região, em sua real integração, na ampliação de laços econômicos, culturais, acadêmicos, científicos, esportivos, construindo processos de cidadania que influenciam a vida daqueles que pegam suas mochilas e decidem construir uma experiência de vida pessoal fora de seus lugares de origem. Iniciativas como essas colaboram com a formação de um indivíduo melhor sob várias óticas. O Brasil, como líder regional que é, deveria estimular uma políticia de turismo de jovens pela América Latina, apoiada por governos e organizações locais, universidades e instituições como Mercosul, UNASUL e CELAC.

Ficamos por aqui, por enquanto, apresentando esse mapa de temas e abordagens sobre eles, convites para a reflexão de uma agenda que amplie as alternativas de atendimento dessas demandas da juventude brasiileira. Claro que existem outras causas, talvez tão importantes quanto essas, mas a ideia foi colocar luz sobre essas por entendê-las como estrategicamente mais relevantes, sabendo inclusive que o mar não está para peixe nem para a manutenção dos avanços conquistados desde a criação da Secretaria Nacional de Juventude, em 2005, ela mesmo ainda ameaçada de seguir com o status, mas sem muito poder de fogo para agir por essas ou outras agendas da política nacional de juventude.

* Daniel Vaz é publicitário, Mestre em Comunicação, atualmente preside a organização Opção Brasil, atua como Coordenador-Geral da UNIJUV – Universidade da Juventude (em exercício) e ocupa a Vice-Presidência da AUALCPI – Associação das Universidades da América Latina e Caribe pela Integração.

** As opiniões apresentadas nesse artigo são de responsabilidade do seu autor.