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Previsões: um jogo de apostas

Em recente palestra na FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), tive a prazerosa experiência de ver cinco professores que lecionam em cursos voltados à área internacional falar a respeito do fenômeno do autodenominado Estado Islâmico, o que representa o terrorismo ao mundo, como ele surgiu, qual a consequência e solução bélica para isso tudo (se é que existe uma) e quais os possíveis desdobramentos de toda a convulsão midiática e geopolítica que toma forma com as notícias diárias que chegam até nós de atrocidades cometidas pelo grupo que se autodeclara um Estado com a intenção de se tornar um califado, tentativas de ataques frustrados, outros que dão certo e, ainda, inimigos antigos como governos e hackers se unindo em uma causa comum. Todos os palestrantes desse dia, inclusive um antigo professor meu apresentaram suas considerações, de um nível analítico altamente qualificado, não obstante, os mesmos sempre enfatizaram em suas falas que o cenário em si era complexo demais para que pudessem dar uma resposta certa ao que estava acontecendo.

A palestra em si, me deixou uma impressão que me levou a certa reflexão baseada em um ditado, que não me recordo a origem, porém acredito que resuma o que é a tentativa de se prever cenários. O ditado diz “Quando os homens falam do futuro, os deuses são gargalhadas.” E o que esse ditado quer dizer especificamente? Quer dizer que muitas são as teorias no calor do momento, estatísticas, análises, contas que tentam desvendar qual ser o próximo passo de um determinado evento, porém, no final, não temos como de fato prever o que realmente vai acontecer e muitas vezes isso é apenas um jogo de apostas.

Recordo que em determinada aula de um dos palestrantes que tive o imenso privilégio de ser aluno, comentando a respeito da Primavera Árabe, falamos que de todas as previsões que haviam sido feitas para a região com relação ao terrorismo, à invasão dos EUA e sua posterior retirada de tropas, acabou que diversos analistas, quando de suas análises, ignoram, não por falta de informação, pesquisa e capacidade analítica, mas por não terem como prever, não identificaram o que viria a ser esse movimento de derrubada dos ditadores que antes mantinham controle ferrenho sob as populações que governavam, muitos há décadas e agora parecia que iria se seguir um efeito dominó e o surgimento de uma era de democracia. Muitos dessas análises da época, inclusive, previam que o regime do presidente sírio Bashar Al Assad e aqui ele ainda está, agora com apoio da Rússia.

Falando em Rússia, grande herdeira e muitas vezes confundida com a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), um dado interessante nos mostra em a análise geral em 1961 é que no ano de 1991 a URSS ultrapassaria os EUA como maior economia do mundo. Ironicamente, foi o ano em que ela deixou de existir. Há alguns anos, o Brasil parecia estar numa trajetória rumo a se tornar uma nova potência e agora está em crise econômica e política, sendo que a América Latina, que parecia ter acordado socialmente, está dando uma guinada à direita.

Uso estes exemplos, não para desmerecer a análise do cenário internacional e dizer que nada pode ser previsto, mas que devemos não apenas tomar uma verdade como única, uma maneira de pensar como a resposta final, pois existem mais coisas entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia. Pequenas coisas do cotidiano de lugares distantes podem fazer uma diferença enorme no desdobrar de ações levando a um mega evento de escala global, em uma teoria do caos onde nada está claro e definido, porém mudando a cada instante. Não tomemos como base questões que não pensamos profundamente e nos abrimos para todas as ideias possíveis antes de defender uma posição. No final, pode ser que o que acreditávamos era apenas um ponto que poderia ser dissipado como fumaça ao vento, apenas um cenário passageiro na constante mudança que acompanha o mundo extremamente conectado e cada vez exigindo mais velocidade de resposta. Manter o diálogo aberto e o debate de ideias é uma das maneiras para tentar se enxergar um pouco mais longe, em um mundo em que ninguém se atreve a jogar todas as suas fichas em um lado.

* Diogo Bastos é internacionalista, trabalha na área de expatriados e estuda as questões políticas globais.
** As opiniões apresentadas nesse artigo são de responsabilidade do seu autor.Diogo Bastos