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Maior “favela” da Europa vai receber Festival de Arte Urbana de Lisboa

Foto: Orlando Almeida/Global Imagens

Foto: Orlando Almeida/Global Imagens

O equivalente ao que entendemos no Brasil como sendo uma favela é chamado em Portugal de “bairro social”, localidade que conta com habitações e estrutura urbana precárias, claro que em um nível bastante superior ao que temos por aqui. O maior aglomerado com esse perfil da Europa chama-se Padre Cruz, fica em Lisboa, e receberá o primeiro festival de arte urbana da capital. Quem lá mora garante que “não é tão ruim como se diz” e que o lugar vai ficar “muito bonito”

“Aqui é tudo bom. Há boas pessoas, há boa vizinhança.” É com tranquilidade que Fátima Rodrigues entra com as duas filhas pequenas no seu bairro de sempre, o Padre Cruz, em Lisboa. Lá dentro, há crianças a brincar na rua, jovens em bicicletas, adultos e idosos sentados no mercado. A partir de dia 30, andarão por ali também graffiteiros respeitados no país, como Vhils, Lara Seixo Rodrigues ou Pariz One.

Na fachada do Clube de Futebol “Os Unidos”, chama já a atenção o mural pintado há poucos dias, a propósito da apresentação do primeiro “Muro -Festival de Arte Urbana de Lisboa”, que vai ocorrer entre 30 de abril e 15 de maio. O seu epicentro será ali. “Será uma galeria a céu aberto”, antevê o presidente da Junta de Freguesia de Carnide, entidade que propôs à Galeria de Arte Urbana (GAU), um departamento municipal, que o bairro onde residem cerca de 5500 pessoas fosse o palco principal de uma iniciativa que promete dinamizar toda a cidade. O primeiro passo, adianta Fábio Sousa, foi perguntar aos moradores se era isso que queriam, o segundo convencer aqueles que mostraram alguma resistência, sobretudo por desconhecimento da proposta.

Serão cerca de 30 os artistas que vão criar o maior festival de arte urbana de Lisboa, que vai ter como grande objetivo realizar cerca de 50 intervenções, numa área total de 2500 metros quadrados. O evento vai contar com sete curadores. Fátima Rodrigues até nem sabia que o Bairro Padre Cruz iria receber o Muro, mas nem por isso deixa de se mostrar agradada com a ideia. “Vai ficar muito bonito”, prevê a lisboeta de 31 anos, sem deixar de reconhecer que esta pode ser uma forma de mostrar que se trata de um local seguro. “Não é assim tão ruim como dizem. Toda a gente pode andar sossegada”, garante.

Os moradores não contêm a irritação e o desalento perante o modo como se tem falado sobre bairros sociais desde que, há uma semana, cinco pessoas foram baleados na Ameixoeira, outra localidade com esse perfil de Lisboa. “Nunca tivemos problemas”, asseguram Abílio e Maria de Jesus Ribeiro, de 75 e 66 anos. O casal aproveita a ciclovia que ali existe para fazer mais uma caminhada no bairro em que ele mora já há 55 anos. “Em todo o lado há gente boa e gente má. Aqui, no Restelo ou em Cascais”, acrescentam. Só lamentam que não existam ali restaurantes. Ou até um parque verde.

Uma nova centralidade?

Elisete Andrade tem 70 anos, começou a residir no Bairro Padre Cruz aos 15 e é hoje a presidente da associação de moradores local. “No início, só existiam casas de alvenaria e telhas de amianto”, recorda a idosa. As últimas já desapareceram totalmente, as primeiras estão neste momento a ser demolidas por etapas, ao mesmo tempo que vão sendo construídas novas habitações, processo iniciado em janeiro.

Achamos que é um sonho”, afirmou então a presidente da Associação de Moradores do Bairro Padre Cruz.

Quase três meses depois, a dirigente reitera a importância da iniciativa. “É uma população bastante envelhecida. As casas têm dois pisos e as escadas são íngremes. Têm o quarto em cima e a cozinha em baixo”, explica Elisete Andrade, frisando que a urbanização começou por ser edificada por funcionários da autarquia e trabalhadores empregados nas obras de construção da Cidade Universitária.

Nessa altura, não havia transportes públicos para um bairro que ainda hoje parece estar desligado da cidade e que tinha as suas próprias marchas populares, com as suas ruas a lutarem pelo primeiro lugar do pódio. Hoje, reconhece, o bairro é bastante diferente, mas nem por isso deixa de, quando fica até mais tarde na cama, abrir propositadamente a janela para a sua vizinha saber que está bem.

“O Bairro Padre Cruz é um lugar exatamente igual a todos os outros, com alguns desafios e com algumas potencialidades”, salienta o presidente da Junta de Freguesia de Carnide. Fábio Sousa defende, de resto, que com o festival de arte urbana o local pode, “apesar de não estar no centro de Lisboa”, se tornará um novo espaço de atração cultural, artístico e turístico. Sempre sem deixar de ter em atenção os interesses de quem ali habita.

Conheça mais sobre essa iniciativa no facebook do evento: https://www.facebook.com/galeriadearteurbana/

Com informações do Diário de Notícias/Portugal