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Daniel Vaz: Meça suas palavras, parça!
Ódio, intolerância e preconceito transbordam na internet e criam clima de vale-tudo na véspera da possibilidade de aprovação do impeachment da Presidenta da República. Desqualificar ao invés de argumentar virou lugar-comum entre parte de usuários das redes sociais, lideranças políticas, setores do Estado e corporações econômicas e de mídia.
O fato de que o Brasil vive uma severa crise de raízes política e econômica não é novidade para ninguém. Outro fato que estamos nos acostumando com ele vem nos acompanhando desde as manifestações realizadas em junho de 2013, o aumento da participação da opinião pública através das redes sociais conectadas, emitindo suas opiniões, repercutindo a de outras pessoas ou simplesmente agredindo, difamando, replicando informações inverídicas em nome da defesa de determinados posicionamentos ou no ataque desmedido, injusto e prejudicial para a continuidade em bom tom das relações humanas, neste momento e depois que ele passar, e isso irá acontecer algum dia, seguramente.
É necessário entender que, na regra do jogo da política, o debate de ideias faz parte do cardápio principal, e isso se faz argumentando de várias maneiras, sem necessariamente seguir um código de boas maneiras, e nem esse é o caso, porque uma das coisas mais normais desse processo é, justamente, a possibilidade de defender aquilo que acreditamos de maneira incisiva, emocionada, e às vezes visceral. Foi o que a humanidade fez em muitos momentos, e que continuará fazendo no futuro. O fenômeno mais recente, e preocupante, é o grau de agressividade vigente, não entre setores da sociedade e aparelhos repressores, como foi na ditadura militar no Brasil, por exemplo, mas entre familiares, colegas de trabalho, membros de um mesmo círculo social,. Além disso, pessoas usam do anonimato como escudo para promover atitudes covardes, retrógradas e ameaçadoras às pessoas e a um convívio social minimamente ciivlizado, agredindo gratuitamente qualquer um, como se estivesse manipulando uma metralhadora giratória e não um teclado de computador ou smartphone.
As pessoas individualmente tem bastante responsabilidade com essa situação que enfrentamos, mas setores organizados da sociedade possuem um grau elevado de envolvimento na manutenção desse cenário de tensão excessiva e desnecessária, mesmo em um momento como o atual, quando desejamos e podemos ser ouvidos, influenciando de alguma maneira do debate atual e das decisões sobre os rumos do país.
Alguns veículos de comunicação passaram dos limites aceitáveis quando optaram por uma construção deturpada de suas linhas editoriais, manipulando as informações desse cenário naturalmente conturbado de acordo com a conveniência e dos seus interesses particulares. Em nome da liberdade de expressão, argumento também utilizado pelos que despejam ódio através dos seus aparatos tecnológicos, empresas do setor de comunicação tradicional jogam na lata do lixo o mito da imparcialidade da imprensa e cada vez mais agem em nome de seus proprietários, ou patrões, como queira chamá-los.
Setores do judiciário buscando impacto midiático decorrentes do cumprimento do seu dever, e uma classe política desacreditada e desqualificada, colaboram enormemente com esse cenário preocupante que enfrentamos, que naturaliza a violência, verbal e muitas vezes também física, como formas de registrar discordância de ideias contrárias às suas.
Nós, como indivíduos, podemos colaborar com a melhoria dessa situação, refletindo a respeito das consequências de nossos atos, incluindo aqueles praticados no ambiente virtual, respeitando opiniões diferentes das nossas. Como disse Saint-Exupéry, autor do clássico livro infantil O Pequeno Príncipe, se tornar eternamente responsável por aquilo que a gente cativa. A internet como uma “terra de ninguém” não interessa a quem deseja o necessário fortalecimento da democracia em nosso país.
Uma expressão antiga pode simbolizar de maneira precisa esse momento atual: aonde é que vamos parar?
* Daniel Vaz é publicitário, Mestre em Comunicação, fundador da ONG Opção Brasil, representando a mesma na Secretaria Executiva da Seção Brasileira de Participação Social da Unasul – União Sul-Americana de Nações, e Mercosul – Mercado Comum do Sul. Desempenha também as funções de Coordenador-geral da UNIJUV – Universidade da Juventude e de Vice-presidente da AUALCPI – Associação das Universidades da América Latina e Caribe pela Integração.
** As opiniões apresentadas nesse texto são de responsabilidade do seu autor.