FABRÍCIO LOPES: CIDADE DO PRESENTE

Imagem info ARTIGO FABRICIO CIDADE

Na década de 1960, movido por fatores políticos, econômicos e sociais, o Brasil passou a ter mais de 50% da população vivendo nas cidades. Desde então os desafios apresentados pelos aglomerados urbanos são muito similares, tais como moradia, transporte, destinação de resíduos, poluição, trânsito, entre outros.

É de causar espanto que, mesmo com o fortalecimento econômico do país, essas regiões ainda convivam com problemas de mais de meio século. Talvez isso se deva ao fato de que o destino da população permaneça nas mãos das mesmas pessoas desde essa época. Isso nos dá a tarefa de continuar a buscar maneiras de mudar essa realidade, nos preparando para implantar novos propósitos de convivência nas áreas urbanas.

Conforme dados do Panorama dos Resíduos Sólidos, o Brasil produz aproximadamente 117 mil toneladas por ano, o que representa mais de 1kg de resíduos por brasileiro diariamente.

Além do lixo, a emissão de poluentes é outro grande problema: segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, o Brasil em 2016 emitiu mais de 2,278 bilhões de toneladas brutas de gás carbônico na atmosfera. Estes são apenas alguns exemplos de problemas das cidades e que são resposáveis por destruir diversos recursos naturais que o planeta levou milhões de anos para construir.

Se não houver uma mudança profunda na forma de viver nas cidades, logo menos haverá um colapso de proporções irreversíveis para a natureza. Quando o planeta tenta se regenerar, não consegue se recompor na mesma velocidade em que o ser humano o destrói. É como ter um machucado e ao invés de permitir ao corpo o descanso necessário para sua recuperação, continuamos a promover um esforço até que não haja mais condições de se regenerar.

No caso brasileiro, o mais impressionante é que a forma de destruir e poluir se eleva justamente quando possuímos informações disponíveis sobre a importância em manter os recursos naturais preservados para garantir uma vida mais saudável desde o presente.

Não podemos negar que a temática ambiental está em crescimento e hoje temos muitas pessoas alterando seus hábitos e buscando unir ideias na busca de dar o mínimo de contribuição. Porém, com grande parte do empresariado, agentes públicos e sociedade com a mentalidade do século passado, o esforço empenhado hoje não é suficiente para curar todo o mal que é feito diariamente ao planeta. É como tentar curar um câncer apenas ingerindo analgésico.

Acredito que no caso brasileiro, o primeiro passo para a mudança é transformar a realidade das cidades com um grande e consciente investimento em políticas de inteligência urbana, que permita à sociedade compreender melhor os impactos e custos que as cidades possuem para reparar danos causados pelo uso desordenado dos recursos disponíveis.

Precisamos vencer essa barreira de que aqueles que defendem a natureza são contra o desenvolvimento. Se há algo que as máquinas não são capazes de produzir são seres humanos saudáveis que possam mantê-las em operação. Investir em políticas públicas com foco em cidades inteligentes é o primeiro passo para que possamos ter um país com mais empregos, melhor mobilidade, moradia digna, energias renováveis e harmonia com o meio ambiente. Estamos atrasados em relação ao planeta para construir cidades do futuro, é necessário construir a cidade do presente.

*Fabrício Lopes é Gestor Público e colaborador do Portal Infojovem

Nota: As opiniões apresentadas nesse texto são de total responsabilidade do seu autor.