Ismênio Bezerra: Qualquer desalento é puro exercício de reflexão

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O exercício de analisar o presente é uma tarefa fundamental para todos que desejam entender ou encontrar as saídas para o desenvolvimento do nosso país. Neste sentido é importante deixar claro qual o tipo de desenvolvimento almejamos. Obviamente que o crescimento econômico é o desejo de qualquer gestor de bom senso e a distribuição de renda equânime, a eliminação das desigualdades, as garantias de oportunidades de acesso e o enfrentamento da violência letal são os desejos dos que sonham e lutam por uma sociedade igualitária.

É importante identificar quem são, ou pelo menos quem deveriam ter sido os sócios prioritários da estratégia de desenvolvimento. Ocorre que enquanto banqueiros fartaram-se de trimestres de bilionários lucros nos últimos vinte anos, os menos favorecidos, mesmo com os avanços das políticas sociais, das políticas compensatórias e políticas inclusivas, não foram de fato convidados para serem sócios na hora da repartição das riquezas. Basta observar os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e do IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas para perceber que concentração de renda privilegia algumas famílias e penaliza milhões.

Olhando para o retrovisor, sobretudo pós redemocratização, não havia dúvidas de que os jovens na forma da lei (cidadãos entre 15 e 29 anos), deveriam não só ser sócios do desenvolvimento integral do país, como também indutores e executores daquilo que chamamos de Projeto de Vida e Projeto de País. Reconhecer o que foi feito nos Governos Fernando Henrique Cardoso – FHC (por uma ação inquestionável capitaneada para então primeira dama Ruth Cardoso), Lula (que avançou e organizou as Políticas Públicas de Juventude – PPJs) e Dilma (que manteve os avanços obtidos nos governos anteriores) é fazer justiça com essas gestões. Fazer uma crítica e reconhecer que não terem consolidado as Políticas Públicas de Juventude – PPJs como política de Estado é ser ético com a história.

Esses erros estratégicos dos agentes públicos do Poder Executivo, aliado a um Parlamento desprovido de conduta republicana, acentuam graves problemas que acometem a sociedade e sobretudo os jovens. O atual Governo, por exemplo, trata os jovens como inimigos do desenvolvimento. Na educação os jovens tiveram cortes nas bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ e Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, o contingenciamento injustificável das verbas de manutenção das Universidades e Institutos Federais de Educação – IFEs, marginalização dos reitores e censura dos professores em todos os níveis de educação. Como se não bastasse, as constantes ameaças da implementação de um novo AI-5 (Ato Institucional Número 5), mostram que o atual Governo Federal não tem zelo com a democracia.

O Brasil na atual gestão não tem um projeto estratégico de país, não tem projeto educacional que nos coloque no século XXI, não tem projeto de mudança das bases econômicas, como não teve nas gestões anteriores. Isso acarreta nos dias de hoje altos índices de violência letal contra todos, sobretudo contra a juventude e avança na tragédia do genocídio dos jovens negros. As Organizações Não Governamentais – ONGs são colocadas sob suspeita pelo Presidente da República, os direitos civis individuais correm riscos devido a hipocrisia do discurso e atuação em nome da “moral, da família e dos bons costumes”, enquanto isso os “cidadãos de bem” continuam com o feminicídio das jovens mulheres.

Aprofundando o conjunto de malefícios pela falta de projeto de país, a miséria e o desemprego crescem, assim como a população carcerária. Detalhe, majoritariamente composta por jovens negros excluídos secularmente dos direitos e oportunidades. Por outro lado temos os Municípios – local onde realmente moram os cidadãos jovens – que estão com o Fundo de Participação dos Municípios – FPM achatados e carentes de gestores criativos, que não fiquem apenas mendigando esmolas dos Governos Estaduais e da União.

Acreditar na democracia, formar opinião e rearticular espaços de diálogo, que não se coloquem a serviço dos polos extremos da intolerância e da radicalização, é o caminho para o reencontro com as saídas da crise que assola o país e consequentemente a juventude. Fortalecer o Estado democrático de direito, nos fóruns e nas ruas, também consiste numa tarefa urgente. As ONGs e os Movimentos Sociais que pavimentaram na década passada a construção do Conselho Nacional de Juventude – CONJUVE (atualmente sem representatividade) não podem se furtar de ampliar os espaços de participação dos jovens, nem de ajudarem a oxigenar as ideias e propor alternativas viáveis de impacto de curto, médio e longo prazo. Como resultado esses impactos devem alcançar os jovens da cidade, do campo, jovens das florestas, das comunidades tradicionais e ribeirinhas, para o rompimento do ciclo de pobreza e exclusão, bem como para elevá-los à condição de cidadãos engajados e sócios do desenvolvimento local e consequentemente do desenvolvimento integral do nosso país. É preciso aprender com os erros, ter clareza que não existem mitos e salvadores, que os sujeitos da transformação não são outros que não os próprios jovens e cidadãos engajados, estes sim são os sócios e responsáveis da transformação do presente e da construção de um Brasil melhor no futuro.

 

 

*Ismênio Bezerra é consultor de Gestão, Planejamento, Marketing e Gerenciamento de Crises. Ex-membro da Secretaria Nacional de Juventude, Ex-Coordenador Especial de Juventude do Governo do Estado do Ceará, Ex-Presidente do Fórum Nacional de Secretários e Gestores Estaduais de Juventude- Forjuve, Ex-Membro do Conselho Nacional de Juventude- CONJUVE, Ex-Presidente do Conselho Estadual de Juventude do Ceará e Ex-Presidente do Instituto CUCA.

Nota: As opiniões apresentadas nesse texto são de total responsabilidade de seu autor