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Favela carioca tem 10 vezes menos diploma universitário que asfalto
Mesmo tendo trabalhado enquanto estudava no ensino médio, Neucirlan de Oliveira, 27 anos, não conseguiu conciliar o ensino superior com seu emprego, em um projeto social do morro Pereira da Silva, no Rio de Janeiro (RJ), onde mora. Uma das maiores dificuldades seria adequar as atividades extras do trabalho com a rotina de estudos, segundo o rapaz.
A prioridade para o trabalho, a falta de verba e a baixa escolaridade fazem com que casos como o de Neucirlan não sejam incomuns nos morros do Rio de Janeiro. O número de moradores de favelas da cidade com curso superior é 10 vezes menor que a quantidade de moradores de outras regiões da cidade graduados, segundo uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, divulgada na última semana.
Entre 2007 e 2008, 2,57% dos moradores das favelas cariocas tinham curso superior, contra 24,09% dos que vivem no “asfalto”, segundo a pesquisa “Desigualdade e Favelas Cariocas: a Cidade Partida está se integrando?”. “O ensino superior é praticamente privado. A falta de renda é um problema. Com programas de bolsa de estudos a perspectiva é melhorar, mas o resultado ainda não foi sentido”, observa o autor da pesquisa, Marcelo Neri.
Outro entrave para o ensino superior nas favelas cariocas é a baixa escolaridade dos moradores, que muitas vezes não chegam a completar etapas anteriores de ensino, aponta Neri. A necessidade de trabalhar é responsável por 31% dos casos de evasão nas favelas, contra 22% no asfalto. A falta de interesse pelos estudos foi citada em 39% dos casos nas favelas contra 25% nas demais regiões da cidade, segundo a pesquisa.
Para Neucirlan ver jovens abandonarem a escola não é novidade. “A maioria dos meus amigos não completou o ensino médio, porque trabalhavam muito”, conta. “Tem muita coisa para estudar, mas você aprende lá [na escola], pratica lá e deixa lá, porque não vai usar em nenhuma outra área da sua vida”, avalia.
Nos últimos 12 anos, o tempo de estudo nas favelas cariocas aumentou em 1,1 ano, ficando 3,5 anos menos que no asfalto. Entre 2007 e 2008 os moradores das favelas tinham em média 6,38 anos de estudo contra 9,89 anos de moradores de outras regiões da cidade. Eles estudam em média 15 minutos por dia a mais que os alunos de favelas, segundo a pesquisa.
“Nos morros a grande maioria dos moradores é de jovens, por isso educação deveria ser uma prioridade”, avalia o responsável pelo estudo, Marcelo Neri. “É preciso pensar em atrativos que mantenham os jovens interessados em estudar, como repasse de verba e cursos técnicos”.
Mulher, saúde e escola
O estudo atenta para a necessidade de abordar temas como saúde da mulher e saúde reprodutiva nas escolas, a fim de reduzir gestações indesejadas e violência.
A taxa de fecundidade das mulheres entre 40 e 45 anos nas favelas é o dobro das moradoras de bairros ricos. Entre as adolescentes a diferença chega a ser cinco vezes maior. A taxa de evasão das brasileiras entre 15 e 19 anos com filhos é entre um terço e um quarto maior que as sem filhos, aponta a pesquisa.
Fonte: Portal Onda Jovem