Geração “nem-nem” cresce longe de emprego e escola

Nem estudando, nem trabalhando. Mais de dois em cada dez jovens brasileiros entre 18 e 20 anos se encontravam nessa espécie de limbo em 2009, à margem da crescente inclusão educacional e laboral registrada no país em anos recentes.

Essa geração “nem-nem” (tradução livre do termo ni-ni, “ni estudian ni trabajan”, usado em espanhol) representa uma parcela crescente dos jovens de 18 a 20 anos. Eram 22,5% dessa faixa etária em 2001 e 24,1% em 2009 (o equivalente a 2,4 milhões de pessoas). Nesse mesmo período, a taxa de desemprego no país recuou de 9,3% para 8,4%.

Entre os homens dessa idade, a parcela dos que estão nessa situação saltou de 14,2% para 17,2% entre 2001 e 2009. Já entre as mulheres, o percentual se manteve estável, mas em um patamar muito alto: 31%.

Os dados, da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), levantados pelo pesquisador Naercio Menezes Filho, do Insper, mostram que isso aconteceu entre 2001 e 2009 nas faixas etárias de 15 a 17 anos. E de forma mais marcante entre as mulheres, que partiam de taxas de “nem estudando, nem trabalhando” bem mais altas do que as dos homens.

Depois a tendência se reverte para os jovens homens e isso se estende até os 21 anos -a partir daí, o percentual dos que não estudam nem trabalham volta a cair.

Entre as mulheres, a única faixa etária que registrou aumento do percentual das que não estudam nem trabalham foi a de 18 anos. Mas o percentual de jovens do sexo feminino sem escola nem emprego permanece tão alto que, segundo especialistas, não há o que se comemorar.

Uma possível causa disso é apontada pela pesquisadora Regina Madalozzo, do Insper: a tradição de a mulher ficar em casa realizando trabalho doméstico não remunerado ainda é muito forte.

Para Luiz Carlos dos Santos, coordenador do Projeto Sol, uma ONG de apoio a adolescentes em São Paulo, parte dos jovens que não trabalham nem estudam forma uma “geração que ficou perdida e está começando a aparecer nos números”.
“Muitos saíram da escola sem saber ler e escrever direito. Outros foram perdidos para o tráfico de drogas, no qual as possibilidades de remuneração são muito maiores.”

Segundo especialistas, o processo ideal e esperado seria que a queda no número de jovens fora da escola e do mercado de trabalho ultrapassasse ou, no mínimo, acompanhasse o ritmo de declínio da população juvenil – que encolhe com a queda da taxa de natalidade.

Os dados são da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e foram levantados pelo pesquisador Naercio Menezes Filho, do Centro de Políticas Públicas do Insper. Segundo especialistas, essa tendência é resultado de várias causas. Entre elas, paradoxalmente, o maior aquecimento no mercado de trabalho – que tem acirrado a competição – e o aumento significativo de transferências do governo para famílias de renda mais baixa.

“Há mais vagas sendo criadas, mas a concorrência também é maior e esses jovens têm pouca ou nenhuma experiência”, diz Menezes. A hipótese é confirmada pelos próprios jovens que fazem parte dos “nem-nem”. “Quem emprega quer experiência. Não tem muita oportunidade para jovens da minha idade”, reclama Cibele Morelis, 20 anos, ensino médio completo e desempregada há três meses.
À falta de experiência se soma outro problema: a formação educacional precária. “Temos hoje um cenário de jovens com escolaridade crescente mas de péssima qualidade. Nos últimos 15 anos, a política educacional privilegiou o ensino universitário, em detrimento do fundamental e do médio”, diz Cláudio Dedecca, professor de economia da Unicamp.

SEM PORTUGUÊS

Quem recruta jovens faz eco a esse diagnóstico. “O resultado de anos e anos de aprovação automática é que jovens com diploma de ensino médio chegam aqui sem falar bem o português. São especialistas em Orkut, mas não têm ideia de como usar o Office”, diz Bruna Barreto, do Isbet (Instituto Brasileiro Pró Educação, Trabalho e Desenvolvimento).

Em situação ainda pior está quem nem terminou o ensino médio. É o caso de Janaína Farias, 18 anos. “Perdi a vaga na escola por excesso de faltas. Estava trabalhando como auxiliar de cozinha.”

Mas, segundo especialistas, há jovens em situação oposta à dela. São os que decidem adiar os planos de trabalhar porque a renda da família engordou com transferências do governo.

“Jovens de famílias nas quais algum membro recebe transferências do governo acabam incentivados a não buscar trabalho”, afirma José Márcio Camargo, da PUC-RJ e da Opus Gestão de Recursos.

Fonte: Cotia Todo Dia / Jornal Meio Norte/ CORECON – MG