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Os jovens, a família e as drogas
Quando os compositores Arnaldo Antunes e Tony Bellotto compuseram a canção Família, interpretada pelos Titãs na década de1980, provavelmente não faziam ideia do valor de almoçar “junto todo dia” e nunca perder “essa mania”. Três décadas depois, uma pesquisa feita por alunos da Universidade de San Diego, na Califórnia (Estados Unidos), confirma a importância do hábito: uma refeição diária na companhia dos familiares pode reduzir em até 80% as chances de os filhos se envolverem com drogas, prostituição ou atos de violência.
O estudo foi feito a partir de entrevistas com 806 jovens de 15 a 25 anos que moravam na Califórnia. Depois de analisar o passado deles, os pesquisadores dividiram-nos em dois grupos: os que se alimentavam com a família e os que não tinham esse costume. Após 27 meses comparando os dados, a equipe de cientistas concluiu que os jovens que tinham a presença dos pais em pelo menos uma refeição diária estavam menos propensos a se envolver com esses problemas.
— Ao avaliar a vida daqueles jovens, percebeu-se a importância do momento em família para a vida deles. Estar com os familiares dá mais liberdade para o jovem falar dos problemas. A presença dos pais nas refeições facilita uma troca de vivências, e a prevenção de possíveis problemas de envolvimento com vícios — afirma o psiquiatra Fábio Barbirato, que acompanhou o estudo.
Troca de experiências. Segundo Barbirato, esse ponto é fundamental. Apenas sentar-se à mesa, mas não conversar, diz o psiquiatra, não trará bons resultados. Por isso, é importante deixar de lado as invenções modernas que dispersam a atenção.
— É necessário ir além de uma simples reunião. Não adianta nada ficar à mesa e, ao mesmo tempo, falar ao telefone, navegar na internet ou assistir à televisão. A ideia é criar uma relação familiar. Aquela hora é de se ligar na família — afirma o médico, que é chefe de Psiquiatria na Santa Casa do Rio de Janeiro e coautor do livro A mente do seu filho: como estimular crianças e identificar distúrbios psicológicos na infância (Agir), com Gabriela Dias.
Alternativas:
Para aquelas famílias que não conseguem uma forma de se reunir à mesa diariamente, o psicólogo Flávio Guimarães, mestre em psicologia clínica e terapeuta de família e casais, ressalta que a refeição é apenas uma das opções que se tem para construir a intimidade no lar. Um sofá e muita história para contar, por exemplo, já dão conta do recado.
— Uma família que gasta algumas horas fazendo outra atividade que permita a interação pode ter resultados igualmente benéficos. O essencial não é a refeição, e sim o acompanhamento e a presença dos familiares — afirma.
De acordo com Fábio Barbirato, a ausência desses momentos em família pode trazer reflexos “lamentáveis” e, na maioria das vezes, “irreversíveis” à vida dos filhos.
— Uma família desagregada quase sempre forma adultos que vão repetir o modelo mais tarde. Uma criança que não tem contato com os pais está aberta a violências físicas e psicológicas como o bullying — alerta.
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE