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Jovens de classe média adotam a preguiça como profissão
Ir a praia numa quarta-feira. “Se eu estivesse trabalhando, isso não seria possÃvel”, diz Andréa M., 22, paulista formada em gastronomia.
Qualidades não faltam a Andréa. Além do talento na cozinha, fala espanhol fluente. Mas, no currÃculo, há somente quatro experiências que não somam mais do que seis meses de trabalho.
Ela conta que, para espantar a monotonia, sai três ou quatro vezes por semana. Seu roteiro inclui bares e baladas na Vila Madalena.
Andréa admite que os seus pais não concordam muito com sua situação atual. “Vivem me dizendo para ir trabalhar. Mas agora, no inverno, prefiro é ficar embaixo das cobertas.”
Andréa está entre os 3,4 milhões de brasileiros com menos de 24 anos que não estão nas salas de aula e nem atuando no mercado formal de trabalho. O número é um estudo recente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas).
A maioria desses jovens, porém, não está longe do mercado de trabalho por preguiça. Há todo tipo de razão: rapazes fora do mercado por causa do serviço militar, jovens mães, portadores de deficiência fÃsica ou mental, dependentes quÃmicos e, é claro, gente que procura emprego e não acha.
Esses 3,4 milhões representam menos de 15% dos brasileiros entre 18 e 24 anos. É um valor bem menor do que os quase 50% de jovens desempregados na Espanha, por exemplo, onde surgiu a geração “ni-ni”, de “ni estudian, ni trabajan”.
Andréa, porém, está confortável com a sua situação de “ni-ni”, ao contrário dos jovens espanhóis, que vão à s ruas protestar. Ela não é, claro, a única jovem com boa formação que optou, com a anuência dos pais, pelo ócio como forma de vida.
Para Bruno Wolfsdorf, 21, por exemplo, as férias também duram o ano inteiro. “Meu dia começa à s 13h, horário que costumo acordar, depois vou para o videogame ou computador”, diz. Ele acabou de chegar de um mochilão de um ano na Europa.
Ele também estudou gastronomia e fala inglês, espanhol e hebraico. Diz não querer ficar muito tempo sem fazer nada, mas não reclama. “Não está ruim, o que pega mesmo é na hora da grana.”
O jovem costuma sair todos os dias nos bairros Itaim Bibi, Vila Madalena e Morumbi. A grana, lógico, vem do bolso dos pais. Ele não tem carro próprio, mas isso não é problema. “Em casa sempre tem um na garagem que eu posso usar.”
Segundo a psicóloga Kênia Piacentini, esse estilo de vida pode ser consequência do comportamentos dos pais dos jovens.
“São geralmente pessoas com dificuldade de se verem independentes dos filhos, gerando uma proteção exagerada que faz com que esses jovens se acomodem, cria dependência.”
Fonte: Correio do Estado