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Crédito ‘fácil’ leva estudantes da classe C para intercâmbio

O estudante de administração Rafael Guilherme Pereira Alves, de 20 anos, viaja em janeiro para Dublin, na Irlanda, para um ano de intercâmbio no exterior. Ele vai fazer cursos de idiomas e viver a experiência de morar na Europa. Funcionário do setor financeiro de uma empresa de plano de saúde, Rafael recorreu a um empréstimo consignado para custear o curso. As possibilidades de acesso a financiamento, empréstimo consignado e parcelamento sem juros no cartão de crédito tem permitido a estudantes da chamada ”classe C” (famílias com renda de R$ 1.126 a R$ 4.854, segundo definição do CPS/Ibre/FGV) a realizar o sonho de fazer um intercâmbio de até um ano no exterior em cursos de idiomas.

Rafael vai gastar no total R$ 13 mil com o intercâmbio, incluindo o curso em uma universidade irlandesa, a passagem aérea, acomodação e mais 3 mil euros exigidos pelo programa para ele poder entrar na Irlanda. “Paguei o curso à vista com empréstimo e estou pagando o banco até a data da viagem”, explica o estudante, que vai pagar tudo em oito parcelas com 1,95% de juros ao mês.

Ele já trancou o curso que faz na Faculdade Rio Branco para pode pagar o intercâmbio. Rafael fez ensino médio em uma escola pública do Sesi. Difícil foi convencer os pais, com quem mora no bairro da Freguesia do Ó, Zona Norte de São Paulo, da importância deste intercâmbio para o seu futuro. “Meus pais acham que não é necessário”, afirma Rafael. “Mas vou dar um ‘upgrade’ no meu inglês, os cursos de línguas que fiz no Brasil não foram suficientes.”

Relações internacionais
O intercâmbio na Irlanda permite ao estudante estudar e trabalhar. São seis meses de aula e outros seis com maior liberdade, podendo trabalhar e viajar pela Europa. Gustavo Ferreira da Silva, de 17 anos, também vai para Dublin. O estudante de primeiro ano do curso de geografia da Universidade Federal de Goiânia quer aprender inglês para no futuro trabalhar com relações internacionais em geopolítica.

“Estados Unidos e Inglaterra são muito burocráticos nas exigências para o estudante. A Inglaterra exigia quantia muito alta em conta bancária (R$ 20 mil). A Irlanda foi a melhor opção”, afirma Gustavo, que estudou em escola pública no ensino médio.

Gustavo trabalha como vendedor em uma loja de roupas na capital de Goiás. Pretende deixar o emprego no final do ano e fazer o intercâmbio em janeiro de 2012. “Minha mãe viu que ter o inglês será importante para a minha carreira”, afirma.

As agências de turismo que vendem pacotes de intercâmbio afirmam que nos últimos anos cresceu muito a procura de clientes da classe C. “O crescimento do poder aquisitivo permite a este público investir mais em qualificação. Jovem que termina a faculdade percebe que só a universidade não é diferencial, precisa ter segundo idioma. Viu que é acessível passar seis meses estudando em outro país”, diz Marcelo Albuquerque, diretor da IE Intercâmbio.

As empresas estão buscando novas formas de pagamento para facilitar a vida do estudante. Antigamente, o interessado pagava 30% do valor como entrada e tinha que quitar o restante antes da viagem, sujeito a variação cambial. “Agora é possível dividir tudo em dez vezes no cartão com o câmbio do dia da assinatura do contrato, o que facilitou muito para a classe C”, diz Albuquerque.

Aumento da clientela
A Central de Intercâmbio estima que entre 15% e 20% de sua clientela seja da classe C. A agência atende o público desde 2008, segundo o diretor comercial, Jan Wrede. Desde esse período, a empresa oferece financiamento em até 24 vezes, com parcelas entre R$ 100 e R$ 200.

“O maior problema não é muito a questão financeira, mas o desconhecimento de que podem fazer”, disse Wrede. Segundo o diretor comercial, esses “novos consumidores”, como são chamados na agência, precisam de mais ajuda para tirar visto, para passar pela alfândega, comprar passagens e definir destino. “O desafio é tornar nossos produtos mais palatáveis para eles”, disse.

Já a agência Student Travel Bureau (STB) ainda não tem clientes da classe C, segundo a CEO da empresa, Santuza Bicalho. O motivo é que o acesso a vistos de estudante ainda é difícil para esse público, de acordo com Santuza, já que é preciso histórico de estabilidade no emprego, renda e poupança. “A classe C está formando isso agora”, afirmou.

Recém-chegado de um intercâmbio de um ano na Irlanda, Vinícius Henrique Genova, de 28 anos, aprimorou seu inglês para trabalhar como consultor de turismo corporativo. No período em que ficou na Europa, viajou para vários países, trabalhou como camareiro em hotéis e conheceu de perto a crise econômica que atinge a Irlanda. Na volta ao Brasil, foi recontratado pela empresa de turismo onde trabalhava.

“Vi que o turismo está mudando. Antigamente, de cada dez pessoas, apenas uma da classe C ou D conseguia viajar para a Europa. Agora qualquer um pode ir”, afirma Vinicius, que estudou em escola pública em Macaubal, e faculdade particular em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. “O intercâmbio foi perfeito para minha carreira, hoje falo inglês com muita naturalidade.”

Fonte: 180graus.com