Inclusão se ensina e se aprende na escola

Nathaly Ferreira da Silva, 7 anos, abre o sorriso quando os colegas do primeiro ano do Ensino Fundamental da Emeief Machado de Assis, em Santo André, começam a cantar ‘Atirei o pau no gato’. Ela tem paralisia cerebral e baixa visão e faz parte dos 4.458 alunos da rede municipal do Grande ABC incluídos em salas de aula convencionais. Eles representam 2,7% dos estudantes matriculados nas escolas de cinco cidades da região. Mauá não especificou o número e Rio Grande da Serra não respondeu.

“Ela adora música, mas não gosta de ‘Parabéns a você’. Por isso, quando faz aniversário, cantamos ‘Atirei o pau no gato'”, diz a professora Fabiana Cristina da Silva.

Quando Nathaly chegou à escola, no ano passado, sua mãe, a dona de casa Dirce Ferreira, 25 anos, teve medo. “Achava que só eu sabia cuidar dela.” A história da família explica a insegurança da jovem mãe: a menina teve encefalite viral aos 5 meses. A doença afetou parte do cérebro da menina, problema agravado dez dias depois que ela recebeu alta. “O pai chacoalhou a Nathaly e a jogou em cima da cama”, disse a mãe, que também foi agredida. Durante todo o ano letivo de 2010, Dirce compareceu à escola enquanto Nathaly tinha aulas. Foi assim que passou a confiar nos profissionais. Além da professora, Nathaly tem ao seu lado a cuidadora Kemili de Almeida Lopes, estudante de Pedagogia. “A Nathaly mudou muito desde que entrou na escola: está mais sociável e passou a entender e participar das atividades.”

Segundo a pedagoga e especialista em educação especial e inclusiva Maria José de Oliveira Russo, a Marjô, incluir crianças com deficiência em escolas convencionais é obrigatório, conforme decreto de 1999 que regulamentou a Lei 7.853/89. O diretor que nega receber aluno deficiente está sujeito a pena de um a quatro anos de reclusão e multa.

Mas, na opinião de Marjô, a inclusão não deve ser feita apenas porque a lei obriga. “A escola precisa criar condições para receber o aluno e fazer com que ele permaneça, tais como acessibilidade e capacitação dos profissionais.”

A pedagoga viveu a questão dentro de casa: ela tem uma filha de 31 anos que tem deficiência mental. “Minha filha estuda até hoje em escola especial, pois nos anos 1980 não havia escolas preparadas para recebê-la.” Marjô garante que se a filha estivesse hoje com 7 anos, estaria incluída na rede convencional.

 

DESENVOLVIMENTO

A secretária de Educação de São Bernardo, Cleuza Repulho, é defensora da inclusão. Ela cita a convivência com a diversidade como benéfica para ambos os lados. “A criança com deficiência é estimulada em seu desenvolvimento e as demais aprendem a respeitar as diferenças.”

Para Cleuza, a inclusão precisa ser acompanhada por terapias e outros recursos para o pleno desenvolvimento. “As salas de recursos, equoterapia, fisioterapia, fonoaudiólogo, tudo isso ajuda o aluno a se desenvolver e alcançar seus objetivos pedagógicos”, avalia.

Segundo a secretária, as crianças deficientes estão nas escolas convencionais não apenas pela possibilidade de socialização, mas para aprender. “O aprendizado é essencial, dentro dos limites de cada aluno”, garante.

Fonte: dgabc