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DIOGO BASTOS: EXCLUSÃO SOCIAL É FONTE PARA O TERRORISMO

Diogo Bastos

Jovens muçulmanos marginalizados são recrutados aos milhares por grupos como o Estado Islâmico.

Todos nós ficamos aterrorizados com as atrocidades cometidas pelo autodenominado Estado Islâmico (na sigla em inglês, ISIS, Islamic State of Iraq and Syria). Execuções brutais, destruição de patrimônios culturais de milhares de anos e valor inestimável fazem parte do cotidiano de notícias que correm mundo afora a respeito do grupo. Sem dúvida, ações com o intuito de chocar e amedrontar os inimigos. Porém, um dos fatos mais curiosos que chegam até nós é a quantidade de jovens, de diversas nacionalidades e credos, que se juntam às fileiras do grupo para lutar suas batalhas.

Não é o caso de querer simplificar e, muito menos, generalizar os motivos que levaram, e ainda levam, milhares de jovens a lutar por uma causa tão brutal. O enfoque desse artigo é dialogar sobre razões pelas quais muitos jovens se jogam nesta jihad, que passa por um dos problemas e será tema de calorosos debates pelos anos a vir.

Oriente Médio e Ocidente, desde as Guerras Médicas – travadas entre gregos e persas – até as cruzadas e hoje em dia o embate civilizacional entre o Ocidente e Oriente, como previsto por Samuel Huntington no livro O Choque de Civilizações e a Mudança na Ordem Mundial, estiveram em diversos períodos da história, travando batalhas entre si. É natural, desta forma, que depois de séculos e histórias de guerra, exista certa desconfiança, um preconceito entre ambas as partes, ainda que alianças sejam firmadas a partir de interesses geopolíticos e estratégicos, que não serão abordados neste artigo.

O Ocidente através do desenvolvimento econômico e social que obteve, fruto de uma história de consolidação de em impérios poderosos, conquista dos mares e revolução industrial, sempre atraiu e ainda atrai ondas de migrantes que buscam uma oportunidade de melhorar de vida ou obter conhecimentos e status em suas prestigiosas universidades. O povo muçulmano, que abrange pessoas de diversas nacionalidades, está entre os que, principalmente após os atentados de 11 de Setembro de 2001 nos EUA, passaram a sofrer ainda mais preconceito e exclusão social a partir do medo e desconfiança gerados pelos ataques terroristas, além de um alto grau de desconhecimento de sua religião, suas ramificações e dogmas.

Mesmo muçulmanos que nasceram nos países ocidentais e possuem hábitos completamente locais, por professar uma religião diferente, sofrem a partir dessa visão criada pelo medo e desconhecimento. Neste cenário, muitos jovens muçulmanos sentem tremenda dificuldade de conseguir se incluir nas sociedades, tanto nas escolas, quanto em eventos de lazer ao quais participem e isso acaba gerando um isolamento social de diversos indivíduos que não se integram às sociedade e passam a ver seus próprios conterrâneos como inimigos. Um prato cheio para grupos como o ISIS, que usa de propagandas maciças através de internet e das comunidades locais para atrair jovens à sua causa, através de mensagens de união, de não discriminação, mensagens que buscam fazer com que esses jovens excluídos e cansados dos níveis de xenofobia que enfrentam cotidianamente enxerguem a luta do ISIS como seu destino, pois ali no grupo eles encontrarão outros iguais que estão dispostos a recebê-los, levando ao sentimento de que as causas defendidas pelo ISIS fazem parte da sua luta, contra todos aqueles que nunca deram valor a elas.

A participação de jovens muçulmanos envolvem, obviamente, questões não somente religiosas, mas ideológicas e de contestação a determinadas legitimidades da sociedade.

Não obstante, um dos pontos a serem debatidos é justamente esta inclusão social dos jovens descendentes de imigrantes que não acham o acolhimento que eles esperam na terra em que eles nasceram e na cultura em que eles foram criados. O Ocidente acaba criando seu próprio inimigo quando enxerga com medo e não busca entender as aspirações do povo muçulmano, de querer ter sua religião e que ela seja respeitada como todas as outras, se sentindo parte de fato da sociedade e não como ameaças constantes à paz global.

Isto pode servir de paralelo com a exclusão social de populações marginalizadas nas periferias brasileiras, que são tidas por uma significativa parcela da sociedade como invasoras, inimigas, estranhas. A inclusão social é um dos caminhos para alcançarmos um mundo mais pacífico, para que processos violentos fiquem no passado e sejam estudadas apenas como um período da história da humanidade em que não conseguíamos ver uma pessoa de cultura diferente como igual, e sim um inimigo a ser isolado. No caso dos jovens atraídos pelo ISIS, quanto mais forem excluídos, mais força darão as atrocidades que tanto nos horrorizam.

* Diogo Bastos é internacionalista, trabalha na área de expatriados e estuda as questões políticas globais.

** As opiniões apresentadas nesse artigo são de responsabilidade do seu autor.