Tags
Posts Relacionados
Compartilhe
DIOGO BASTOS: CORRUPÇÃO: CULTURA OU ÍNDOLE?
Ficamos chocados com o caso da Volkswagen a respeito do software que a companhia havia pedido para ser feito, no intuito de driblar as fiscalizações das agências ambientais europeia e estadunidense, no quesito de poluição de seus carros a diesel. Sabemos que o diesel é um dos combustíveis que mais polui o ambiente, ajudando a causar chuvas ácidas, emitir gases que aumentam as ilhas de calor nas cidades, além de piorar o ar que todos respiramos e causar inúmeras doenças respiratórias, aumentando a taxa de mortalidade em todos que vivem em grandes cidades ou conglomerados urbanos, além da piora na qualidade de vida.
Com relação à fiscalização sobre a poluição causada, a Volkswagen pediu à empresa Bosch para criar um dispositivo eletrônico que enganasse os testes, “maquiando” os níveis de poluição na hora dos testes, porém se desligando quando o carro estava sendo usado normalmente, o que cortava o controle das emissões e fazia os carros não perderem potência quando utilizados dando uma vantagem de mercado à montadora alemã, que atualmente, ainda ocupa o posto de maior do mundo. Com o estouro dessa notícia, o presidente global da companhia renunciou. As ações caíram 20% e o custo do recall e multas, somados, dará cerca de seis bilhões de euros.
Isso tudo veio como uma surpresa para a marca alemã, oriunda de um dos países mais admirados e conhecidos do mundo, seja por sua história sangrenta ou sua trajetória de recuperação econômica e industrial fantástica no pós-guerra, que o alçou ao posto de uma das maiores economias do mundo (a maior da Europa), que pouco sofreu com a crise, terra natal de inúmeras personalidades que mudaram a história mundial através do tempo, ganhador da última copa do mundo e país modelo em questões de eficiência estatal. Todos os quesitos citados acima são alguns dos que ajudam a Alemanha em seu crescimento de influência mundial, não apenas por sua situação econômica, mas também por seu soft power, potencializado pela imagem de confiança e equidade que o país passa ao mundo.
Certamente que esse acontecimento com a Volkswagen não manchará a imagem do país, Alemanha, da mesma forma que manchou o da montadora, porém podemos tomar isto como exemplo para uma ideia recorrente a nós brasileiros: de que o Brasil é um país corrupto por natureza e que a corrupção existe somente aqui. Obviamente que alguns países possuem um nível de corrupção maior do que o de outros e muito disso se dá pela cultura de um local, passada e consolidada através de gerações, bem como a maneira como um país planeja o desenvolvimento de sua sociedade, muito mais até do que apenas por existir punições mais pesadas ou mais leves ou por uma questão de determinismo.
A corrupção existe desde que as sociedades foram formadas e surgiram aqueles que achavam que podiam tirar vantagem de alguma forma para ficar acima dos outros. Neste caso da Volkswagen, o fato de a montadora ser alemã não impediu que ela tivesse uma atitude de querer vantagem na disputa mercadológica pela venda de carros e arranjou uma forma de burlar as regras. Ninguém esperava que ouvíssemos uma notícia dessas a respeito de uma montadora alemã, porém se fosse uma empresa brasileira, certamente não ficaríamos estarrecidos, pois consideraríamos normal, uma vez que a empresa teria vindo do Brasil aonde a corrupção é endêmica, como dizem.
Para não ficar apenas na história da Volkswagen, podemos citar o recente escândalo da FIFA, de pagamentos escusos a seus dirigentes por direitos de transmissão, escolha de sedes de copas, lavagem de dinheiro, favorecimentos, entre outros. Apesar de seu presidente vir de um país também considerado exemplo no quesito de qualidade de vida, neutralidade em guerras, uma “reputação ilibada”, por assim dizer, e tantos outros serem de países europeus também considerados exemplos de honestidade e desenvolvimento social em diversas áreas, isso não impediu que esses fatos ocorressem.
Afinal, corrupção não depende do país e sim de caráter. Por mais que, obviamente, uma sociedade desenvolvida transforme certos fatos em escândalos (e não apenas em mais uma notícia corriqueira), pois a própria sociedade educa seus cidadãos a agirem e trabalharem para o bem de todos e não apenas de alguns poucos, o fator corrupção também tem algo de índole. Não podemos afirmar que porque uma pessoa mora em uma favela que ela será uma ladra e nem que um alemão, suíço ou nórdico será um santo na terra. Uma sociedade que busca um desenvolvimento deve educar a todos seus cidadãos para que eles não precisem ser punidos, mais ainda assim isso não resolverá o problema, restando a que as leis sejam aplicadas àqueles que querem tirar vantagem sobre as situações.
A “síndrome do vira-lata” que de vez em quando ouvimos falar e que perfeitamente se aplica a nós brasileiros, enquanto nação, nada mais é do que o resultado desta visão colonialista de que onde estamos é e sempre será inferior aos países “do norte”, de que não existe corrupção acima da Linha do Equador e que estamos fadados a ter que apenas aturar a corrupção que nos cerca, pois está em nosso sangue que essas atitudes aconteçam. A cultura em que uma pessoa é criada, certamente influencia, e muito, na maneira como ela agirá como indivíduo em uma sociedade, porém há aqueles que ainda assim, decidem por não seguir as práticas estabelecidas e no caso do Brasil, apesar de vermos todos os dias aqueles que apenas pensam em burlar as regras para se aproveitar das situações em favor próprio, existe quem assim não o faz e vice-versa, como no caso da Volkswagen e da FIFA. Atentemo-nos para não deixar que nossa autoestima seja abaixada como povo e acreditemos que nada é pré-determinado e que podemos sim, por mais que seja um trabalho hercúleo, mudar as práticas que nos cercam, para que possamos viver na sociedade que desejamos.