Tags
Posts Relacionados
Compartilhe
DIOGO BASTOS: 1º JOGOS MUNDIAIS DOS POVOS INDÍGENAS
Não tem o mesmo glamour da olimpíada moderna, iniciada em Atenas no ano de 1896 e nem possui diversos países participando de uma mesma modalidade, porém tão importante quanto para os povos que dela participam, o 1º Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, que acontece este ano no Brasil, na cidade de Palmas, capital do Tocantins, de 23 a 31 de Outubro, é um acontecimento que podemos chamar de histórico.
Mil e setecentos atletas, escolhidos pelos chefes de suas respectivas tribos, vindos do Brasil, Rússia, Nova Zelândia, Estados Unidos, Canadá, Colômbia, Mongólia, Chile, Etiópia e Finlândia, disputam modalidades como arco e flecha, arremesso de lança, cabo de força, corrida de velocidade rústica, canoagem, corrida de tora, lutas corporais, xikunahati (espécie de futebol de cabeça), futebol de campo, atletismo e natação.
O evento foi ideia dos Povo Terena, do Brasil, e reuniu mais de 20 etnias brasileiras, apesar de ter havido boicote por parte de outros como os Krahô e os Apinajé, que não atenderam ao evento em protesto à demora na demarcação das terras indígenas e a invasão delas, o que faz deste acontecimento um importante chamariz para as causas dos povos indígenas.
Desde a conquista da América e Oceania que os indígenas forma jogados à margem do que antes eram grandes e poderosas civilizações, em muitos aspectos mais avançados que os europeus da época. Os povos indígenas até hoje são massacrados, sem direito à terra que um dia foi deles, sendo jogados para escanteios pelos interesses do agronegócio, garimpeiros, madeireiros e grileiros. O que falar então das terríveis notícias que chegam até nós frequentemente da invasão das terras demarcadas e o pouco caso que os governos fazem para essa questão.
Mesmo em países aonde gozam de maior proteção e respeito por suas tradições, como por exemplo, na Nova Zelândia, aonde o rugby, esporte nacional, conta com o famoso time dos All Blacks, que ficaram famosos mundo afora devido às suas apresentações antes de cada partida, inspiradas em uma antiga tradição Maori de dançar, gritar e fazer caretas para assustar o inimigo, os povos indígenas não chegam em perto do tamanho que eram quando eles dominavam suas terras por completo.
Por isso que um evento como estes Jogos Mundiais são de fundamental importância para que o mundo passe a enxergar com olhos mais atentos às causas e passem a valorizar sua cultura. Apenas quando dado o devido respeito e reconhecimento aos povos indígenas, que eles conseguirão que suas demandas sejam atendidas e uma integração desses povos à sociedade, porém respeitando-se sua cultura, será possível.
Os povos indígenas por muito tempo foram identificados como mais atrasados tecnologicamente que os europeus, preguiçosos demais para o trabalho e amigáveis demais para se defenderem, e isso não pode estar mais longe do que realmente eles são. Temos histórias de cidades imensas floresta amazônica adentro, o que alguns historiadores até chamam império amazônico, que floresceu muito tempo antes da chegada dos conquistadores europeus, além dos impérios Inca, Maia e Asteca, cujas fórmulas matemáticas, arquitetura e conhecimentos astrológicos estavam muito afrente de seu tempo. Perdemos todo este conhecimento quando da queda destes impérios promovida por uma brutal conquista, aonde a cultura destes povos foi tratada como bárbara. Isso sem contar no extermínio de diversos povos com culturas e conhecimentos únicos, que dificilmente conseguiremos resgatar.
Cada povo deve ter sua história e cultura preservadas e os povos indígenas não são diferentes. Que com estes jogos eles possam chamar a atenção do mundo para sua luta, suas causas, suas demandas e para que seus direitos sejam respeitados como devem. Muito temos que aprender com estes povos, que por mais brutal que tenha a conquista de suas terras, ainda hoje continuam clamando por suas terras, defendendo sua história e exigindo cada direito seu conquistado, mostrando que não se renderam e não pretendem voltar em suas lutas diárias.
Que este sejam um impulso para os preparativos da mudança da forma em que a sociedade os reconhece!
* Diogo Bastos é internacionalista, trabalha na área de expatriados e estuda as questões políticas globais.
** As opiniões apresentadas nesse artigo são de responsabilidade do seu autor.