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Empreendedores do Subúrbio de Salvador se destacam com venda produtos cotidianos
Da Calçada a São Tomé de Paripe, o Subúrbio Ferroviário de Salvador, tão conhecido pelas belezas naturais, é terreno fértil para pessoas com vontade e necessidade de empreender, como é o caso de Lucineide Santos, dona de uma sorveteria no bairro de Plataforma, e também de Jadison Palma, morador de Fazenda Coutos III, que tem uma marca de roupas e é o idealizador do Instituto Jovens Periféricos.
Às margens das águas tranquilas da Baía de Todos-os-Santos, o Subúrbio Ferroviário é composto por 16 bairros, além da Ilha de Maré, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur).
São eles: Calçada, Alto da Terezinha, Alto do Cabrito, Coutos, Fazenda Coutos, Itacaranha, Lobato, Nova Constituinte, Paripe, Periperi, Plataforma, Praia Grande, Rio Sena, Santa Luzia, São João do Cabrito e São Tomé.
De acordo com o último Censo do IBGE (2010), o subúrbio concentrava 12,6% da população da capital baiana, com 335.927 mil moradores.
Sorveteria Plataforma
Depois de trabalhar no ramo do comércio por mais de 20 anos, Lucineide Santos cansou de “bater ponto” e decidiu investir no próprio negócio. Primeiro, se aventurou na venda de roupas e acessórios de praia, mas a forte concorrência a fez desistir. Foi então que, há quatro anos, decidiu abrir uma sorveteria.
Já no primeiro ano, o negócio deu resultado e as vendas dispararam, o que fez com que os concorrentes ficassem de olho no novo estabelecimento, como explica Lucineide.
“No meu primeiro ano, dispararam as vendas. Mas quando você faz algo que dá certo, as pessoas copiam, o que é normal. Hoje, não dispara como antes, mas, mesmo assim, dá para tirar uma grana e guardar o do inverno”.
Fazer uma reserva de economia é fundamental para quem trabalha em uma área de vendas sazonais [em períodos específicos], como uma sorveteria. Para se segurar no inverno, período do ano em que costuma vender pouco, Lucineide precisa ser cautelosa com o lucro que tem na primavera e no verão.
“Você tem que fazer isso, porque senão você não se mantém. No inverno, tem dias que você não vende um picolé. Chego a ficar três, quatro, cinco dias sem vender um picolé. Tem que guardar para no inverno você ter como manter um negócio”, contou a dona da sorveteria.
Lucineide vende picolé avulso na sorveteria, mas esse modelo está longe de ser o mais rentável. Ela lucra com os revendedores locais que compram o produto em sua mão para vender em casa, assim como entregas em grandes quantidades.
Além disso, Lucineide tem 12 carrinhos, todos utilizados por vendedores cadastrados que rodam o Subúrbio com picolés de diversos sabores.
“Fazemos o cadastro dos carrinhos. Tento buscar pessoas da região, pessoas mais velhas que estão sem trabalhar. Empresto o carrinho, dou a guia e os produtos são meus. O que eles venderem, me pagam. O que não vender, guardam para sair no outro dia. É uma parceria”, afirmou Lucineide.
Um desses vendedores é Manoel, que circula pelos bairros de Periperi, Praia Grande e Escada, e vende uma média de 200 picolés por dia. Ele conta que o período que antecede o verão é o mais lucrativo, graças à concorrência reduzida.
“Antes do verão, a gente trabalha melhor. Quando chega o verão, dificulta um pouco, pela concorrência que a gente encontra”.
“Os sabores mais vendidos são amendoim, açaí com amendoim e também o esquimó, que tem cobertura de chocolate. O africano também, que tem pedaços de chocolate, que é bem difícil de encontrar em Salvador”, explicou Manoel.
Apesar das dificuldades de tocar o próprio negócio, Lucineide Santos garante que não pensa em voltar a trabalhar para outra pessoa.
“Tem noites que você não consegue dormir, mas é muito gratificante. Voltar a trabalhar para outra pessoa, só se for da vontade de Deus. Da minha vontade, não é. Estou satisfeita com meu negócio”, afirmou.
Jovens Periféricos
A história de empreendedorismo e ação social de Jadison Palma, 25, começa com o desejo de se identificar através do jeito de vestir. Com esse pensamento, ele decidiu confeccionar as próprias camisas, estampando as iniciais do nome, que futuramente viria a se tornar o nome da marca de roupas, a JP Exclusive.
Não demorou para que os amigos de Fazenda Coutos 3, bairro onde cresceu, demonstrassem interesse pelas peças, e então os pedidos começaram a aparecer. Era o início de um negócio que já dura dois anos.
“A galera começou a olhar, gostou, e eu pensei em transformar em comércio. A galera pedia para estampar cabelos black, frases. Chamei 30 amigos de diferentes localidades do meu bairro. Compreendi que podia ser uma maneira de ganhar dinheiro. Foi numa época que a galera da periferia começou a se descobrir, aceitar suas raízes. Pegava imagens e estampava. Foi uma febre. Fiz um desfile a céu aberto que impactou muita gente”, afirmou.
O negócio “bombou” nas periferias e logo Jadison comprou o próprio maquinário, reduzindo o tempo de produção das peças de sete para dois dias.
“Periferia é um celeiro de pessoas talentosas, que precisam de oportunidade, assim como eu. A marca é exclusivamente para essas pessoas”, defendeu Jadison.
Nos desfiles em que promovia, Jadison convidava jovens da periferia para usar as roupas e percebeu que isso servia como elevar a autoestima dessas pessoas. Foi daí que surgiu a ideia de criar o Instituto Jovens Periféricos, que hoje funciona em três sedes e oferece aulas de dança, música e moda.
“Eu vi que aquilo poderia ser algo social, que poderia mudar a vida das pessoas”, contou.
O Jovens Periféricos, que começou com uma sede no bairro de Plataforma, ganhou vida também em Fazenda Coutos e no centro da cidade, atendendo 180 pessoas.
O instituto preza pela inclusão, por isso é comum ver modelos mais velhos, plus size e pessoas com deficiência, como é o caso de Patrícia, que conta que foi abraçada pelo grupo.
“Nos primeiros dias, fiquei com vergonha, foi um pouco difícil, mas a galera me abraçou. Aqui eu aprendi postura, como andar e ser como eu sou. Aprendi a me valorizar mais ainda”, disse.
A inclusão de pessoas rejeitadas em determinados espaços é uma das principais bandeiras levantadas pelo idealizador do Instituto Jovens Periféricos.
“Em determinados lugares, nós que somos negros, somos barrados. O projeto tem intuito, além de mudar a vida das pessoas, incluir”, conta.
“É fazer com que o deficiente físico, auditivo ou qualquer outra deficiência possa ter a mesma oportunidade de outra pessoa, então para mim isso é muito gratificante”, explicou Jadison Palma.
Fonte: G1 Bahia